02 julho, 2014

O Diário De Vic-Capítulo 4 (Camila)

Capítulo sem música


Naquele dia, o hospital parecia estranho, mais amedrontador do que quando vou lá por causa de um mal estar ou algo um pouco pior. Parecia sem vida, sem cor, o que é normal em um hospital. De repente, lembrei de meus cinco anos, quando queria ser médica. Não parecia uma ideia tão boa agora.
-Tudo bem, Vic? -Minha mãe, ao meu lado, perguntou.
-Sim…
Estávamos na recepção do hospital, na ala infantil. Eles consideram infantil até os dezessete anos, vai sabe o porquê. Tinha umas duas garotas na minha frente para serem atendidas, uma de quinze e outra de sete. A mais nova tinha rinite alérgica e precisava fazer exames de rotina, a mais velha estava em tratamento de leucemia, pelo o que conversávamos.
-Com quantos anos foi diagnosticada? -Eu perguntei a ela.
-Seis, em exames de rotina.
-Sério? Nossa… -Eu fiquei impressionada.
-É… e você, qual o motivo de estar aqui? -Hesitei um pouco antes de responder, meio nervosa.
-Faz umas semanas, depois de um ataque fortíssimo de asma, uns exames encontraram um tumor em meu pulmão. -Ela parecia tão espantada quanto eu quando a própria contou da leucemia.
-Nossa, você também não está melhor! Quantos anos você tem?
-Treze.
-Tenho quinze. Ah, nem falei, meu nome é Camila!
-O meu é Vitória!
-Vitória… acho muito bonito! Espero que o destino honre eu nome e dê tudo certo em seu tratamento! -Ela sorria.
-Obrigada, sorte no seu tratamento também! -Assim que falei, a assistente chamou no microfone:
-Camila Reis, consultório 6! -Camila teve se despediu e seguiu com os pais para a sala da doutora Mariana. Sentei ao lado de minha mãe novamente.
-Conhecia ela? -Perguntou, como imaginei.
-Conheci agora. -Respondi.
-O que ela tem?
-Leucemia, foi diagnosticada com seis anos.
-Nossa, imagino o choque para a família!
-Eu não consigo nem imaginar…
Assim que entrei no consultório, Mariana rapidamente me encaminhou para uma tomografia. Seria meu primeiro exame do tratamento, para decidirmos o que seria feito.
Após o cansativo exame, a médica falou:
-Vitória terá que fazer quimioterapia. -Achei melhor ficar quieta e deixar minha mãe falar.
-Sim… quando poderia começar? -Ela perguntou.
-Semana que vem, só preciso de alguns exames de sangue. -A doutora pegou um formulário de autorização -Quarta feira que vem traga e já pode fazer a quimio. -Minha mãe apenas concordou com a cabeça.
Assim que chegamos em casa, minha mãe fez questão de explicar tudo que estava acontecendo, como se eu não soubesse.
-E você não poderá estudar, não ficará em condições. -Ela disse ao final, fazendo uma luzinha de esperança se acender em minha cabeça. Sem aula, sem escola, sem zoações! -Só que precisamos falar com seu pai primeiro, afinal, ele paga a escola.
A luzinha apagou. Meu pai era o exemplo de pai certinho, que pergunta até a classificação indicativa de Meu Pequeno Pônei. Quer que suas filhas (eu, Luly (Luisa), Ana e Pietra) sejam as mais inteligentes da sala, por mais que isso custe o status social delas. Não se importa se elas são chamadas de nerds ou não, se elas jogaram uma Barbie Quero-Ser-Qualquer-Coisa em alguma menina só para se defender. Fiz isso com oito anos, fiquei um mês de castigo. Meu pai TEIMARIA em me deixar fora da escola.
Minha mãe deve ter passado horas no telefone tentando convencer ele, até que desligou e veio para mim com a resposta do careta, de cara feia em dicordância a escolha:
-Vai para a escola até terça feira. Depois, não vai mais. Seu pai já vai conversar com a diretora. -Concordei de mal agrado, fazendo a mesma expressão que ela. Ideias de meu pai, melhor não discordar…

No outro dia, assim que desci para tomar café da manhã, minha mãe estava futucando alguma coisa no computador.
-Bom dia, Vic. Estava pensando, conversando com umas amigas minhas e com suas avós… você deveria participar de um grupo de apoio!
-UM O QUE? -Berrei, recebendo uma bronca:
-NÃO GRITE COMIGO, MOCINHA! ESTÁ ACHANDO QUE SOU O QUE, SUAS NEGUINHA DO COLÉGIO? -Deu uma súbita vontade de falar: “Com elas que não grito mesmo!”
-Não… -Abaixei o tom de voz.
-Ah, bem! Um grupo de apoio, para socializar com pessoas da sua idade e que passam pelo mesmo problema! -Ela também abaixou.
-Você já foi a um grupo de apoio? -Perguntei mais para dar raiva. Ela fez cara feia e respondeu:
-Não, mas é bom para adolescentes! Adultos já tem seus problemas! -Eu apenas suspirei, peguei um pacote de Trakinas e subi para meu quarto.
Minha mãe fala, fala, fala, mas no fundo não faz nada. Tipo, grupo de apoio? Aonde ela está com a cabeça?
Peguei um livro da minha estante, que eu estava gostando muito de ler. Na verdade, era uma série, estava no segundo livro, ou melhor, segunda temporada. A série se chamava Simplesmente Tita. A protagonista, Tita, também sofre bullying, mas a vida dela é um mais triste e sofrida. A minha é mais, digamos, complicada em todos os sentidos.
Minha mãe não me deixou ler nem quinze minutos, me chamou para lavar a louça, já que a própria diz que tenho que fazer alguma coisa nessa casa. Assim que finalmente sentei de novo em minha cama, pensei de súbito: O que rolaria se eu criasse um blog?

Um comentário:

  1. Oiiii!
    Comentei lá no Nyah, mas estou aqui também.
    Então, hospital é um lugar aterrorizante para alguns de nós. Eu tenho certo pavor de hospitais, pra falar a verdade, sei que para a Vic está sendo uma fase bem difícil da vida dela, que ser diagnosticada com câncer não é uma notícia que alguém goste de receber, mas apesar de tudo, estou torcendo por ela, que numa dessas escrever o blog a ajude, por que não? Escrever não deixa de ser uma valiosa terapia, sabe...
    No mais, parabéns pelo capítulo e obrigada por mencionar ST na fic. *-*
    Abraços e sucesso!

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