24 junho, 2014

Believe-Capítulo 5 (O Filtro Dos Sonhos)

Música: Esquadros-Adriana Calcanhoto



Lia 
O vento bagunçava meus cabelos pesados na praia deserta. Eu olhava atentamente o filtro dos sonhos que consegui na padaria no dia em que choveu. Eles são lindos. O meu era de várias cores, eu não sabia o que significava, já que cada cor tem o seu significado. A maré estava forte e dava para ouvir gaivotas, quase coisa de filme. Só que eu sabia que minha vida estava longe de ser coisa de filme, muito longe. Ela não se encaixaria naquelas séries e filmes da Disney em que a mocinha sai da cidade e vai morar no campo, ou vice e versa. Estava longe daquelas séries de adolescentes que vão de Milão para Buenos Aires só para participar de uma escola de música. Longe daquele seriado em que a menina tem um web show, nem filmadora eu tinha. Bem distante daquela em que a menina é descoberta por um olheiro e vira estilista mirim de uma marca luxuosa, beeem distante. Longe até mesmo aqueles filmes em que a mocinha nerd se apaixona pelo garoto mais popular da escola e muda totalmente por ele, ou que a popular se apaixona pelo nerd e faz o mesmo. Eu nem estudava para isso acontecer. Se minha vida fosse um filme, seria Jogos Vorazes, já que me sinto a Katniss presa em uma arena e todos estão contra mim. Exatamente. Sinto os Jogos Vorazes na vida real, em minha própria pele. 
O filtro dos sonhos balançava para todos os lados, sem destino fixo afinal. Queria ele me levar a algum lugar? A algum lugar decente, a uma família adotiva, ao menos a um amigo? O que o destino esperava de mim, afinal? Uma questão que devia ser cuidadosamente analisada, com certeza. Para onde ele me levaria? Para o Alasca ou para o Havaí? Para o México ou para o Japão? Para a Amazônia ou para as luxuosas ilhas caribenhas? Quem poderia saber, afinal?  
Uma vendedora ambulante passou pela praia, carregando sua mercadoria variada. Vi um mensageiro dos ventos e imediatamente um flash passou em minha cabeça: uma menininha de uns cinco anos, apontando para o objeto e perguntando a uma mulher o que era. Ela pegou a menina no colo, a aproximando do mensageiro e respondeu exatamente o nome do objeto.  
De imediato após o rápido flash, fechei os olhos tentando me concentrar. Precisava sentir, precisava ouvir aquele som adorável. Me desliguei total, fingi que não estava na praia e que o mar não fazia barulho algum. Finalmente consegui ouvir o "tlim, tlim" do objeto. O que os ventos estavam querendo me dizer nesse instante? Qual será a mensagem para mim? O que querem de mim? Que eu me entregue ao destino, quem sabe? 
O filtro dos sonhos voltou a girar. Teriam as forças dos sonhos se comunicado com as forças dos ventos? Pareciam extremamente compreensivos um com o outro. Por fim, quando o único barulho que se ficou foi as ondas quebrando, o filtro parou na direção em que o sol estava a se pôr: O oeste, com as suas montanhas lá para trás.  
Levantei e segui caminho, sabendo que algo me esperava lá por aquelas montanhas.   

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