19 setembro, 2014

Believe - Capítulo 7 (Paradise)

Olá... voltei a atualizar a fic, mas todos sabem que eu tinha parado pelo Nyah bugado, certo?



Música: Paradise - Coldplay



Lia
Talvez nada dê tão certo assim. Tudo que parece simples é adequada a esse adjetivo. Parece fala de uma professora de Português, Redação ou mesmo Filosofia. É ou não filosófico? Eu não sei. Nunca fui boa em Filosofia.
Os Filósofos antigos diziam que qualquer um pode pensar, mas nem todos podem filosofar. Depois, diziam que filosofar é pensar. Mas, enfim, seria eu capaz de filosofar ou mesmo pensar? Quem pensa é livre, e eu estou presa nessa gaiola gigante que é o mundo. Seria eu uma pensadora?
Eu quero só voar para longe dessa gaiola, como um pássaro. Talvez eu só quero mesmo é poder viver como alguém normal, uma adolescente normal. Sair com as amigas, ir à escola, sair com “aquela pessoa especial” ... coisas que garotas de quinze anos fazem. Mas não posso.
Eu quero voar daqui. Quero seguir a mensagem que o vento me passou. Quero ir atrás de Catarina Jones.

Revirei minha mochila: oito reais era o que tinha me restado de dinheiro. Peguei dois e comprei um jornal. No jornal da cidade, tinha as rotas de ônibus e os seus pontos e números. O que eu justamente precisava.

— Número 156. — Li no jornal. Era o número do ônibus. — Pegar em frente ao Edifício Que Caiu O Elevador.

Ligue para o Corpo de Bombeiros e fale para a Michele que Lia Fortescue avisou...”. Isso passou com um flashback em minha cabeça. Lembro-me muito bem do prédio, do acidente e da vagabunda da moça dos Bombeiros.
Segui correndo, o ônibus logo passaria. Quase o perdi, mas tudo bem. Ele estava vazio, exceto por uma garota da minha idade, eu acho, e eu. A garota tinha cabelos perfeitamente lisos e alinhados, loiros e brilhantes. A típica patricinha, mexendo no Iphone mais recente possível, tirando selfies e tudo o mais.
O sol estava se pondo. O efeito era, visto dali, incrivelmente mágico. O contraste entre o amarelo e o vermelho, formando um alaranjado escuro, era perfeito. Era como se eu estivesse no paraíso.
        — When she was just a girl, she expected the world, but it flew away from her reach so she ran away from your sleep, and dream the para-para, Paradise... — A loira estava cantando, ouvindo música em seus headphones de marca cor-de-rosa. E eu conhecia aquela música. Sua voz era perfeitamente aguda, como uma soprano de ópera — When she was just a girl, she expected the world, but it flew away from her reach e and the bullets chatch in her teeth...
Life goes on, it gets so heavy, the wheel breaks the butterfly, every tear a waterfall... In the night, the stormy night, she’ll close her eyes, in the night, the stormy night awat she’d fly... — A garota rapidamente se virou para mim. Ficamos nos encarando de uma maneira estranha, o que fazia um absoluto sentido, tendo em vista o que acontece ou poderia estar acontecendo nesse exato instante.
Ela, de cabelos perfeitos e platinados, magra, de olhos azuis, vestida de rosa da cabeça aos pés, com um headphone de marca e um IPhone do tipo mais recente possível. Rica, patricinha, mimadinha. A princesa perfeita que ninguém julgaria.
Eu, de cabelos desajeitados e um tom escuro estranho, com um peso não tão grande mas o suficiente para ser gorda, de preto da cabeça aos pés, com apenas um livro na mão. Pobre, órfã, nem estudar estudo para ser classificada em algum “grupo social”. A garota perfeitamente julgada.
Ela me olhou de um jeito estranho, provavelmente o que qualquer rico faria. Mas para minha surpresa, ela então falou:
— Você gosta dessa música? — Sua voz normal era igualmente aguda.
— Sim... — Respondi. Minha voz soou mais estranha do que eu planejava.
— Qual é seu nome?
— Lia. E o seu?
— Lia? — Ela tinha uma expressão estranha — Esse não é seu apelido?
— Não, é meu nome mesmo. — Bem, era o que eu me lembrava.
— Lia é apelido. Você tem um nome, que deu origem ao apelido. O meu é Katie. — Ela sorriu. Parecia ser legal, mas agia como se eu fosse... burra.
— Eu não sei o meu... sempre foi Lia, eu acho.
— Por que não pergunta aos seus pais? — Baixei os olhos. Não que fosse difícil falar sobre isso, eu não lembrava deles muito bem. Eu pensei como iria contar isso para ela. Ela tinha cara de que não entendia as coisas muito bem. Rapidamente afastei esse pensamento de minha cabeça... eu sabia o que era isso.
Preconceito.
        Indiscutivelmente todos tem. Nem se for somente uma pontadinha, mas tem. E eu não deveria ter.

        — Oh, sinto muito! Você mora com quem? — Aparentemente ela percebeu. Que eu esteja livre desse sentimento, pensei.
— Bem... com ninguém. — Ela arregalou os olhos.
— Oh! Sinto muito, muito, muito mesmo por você!
— Não, tudo bem.
— Se isso não for me intrometer demais, aonde vai? — Pensei na melhor maneira de contar a ela. Respirei fundo, contei mentalmente até três e comecei a falar.
— Eu estou indo para além das montanhas. Não sei bem o nome do lugar, mas procuro uma mineradora de diamantes.
— Deve ser a Cristal. É uma mineradora muito importante, sabe? Eu estou indo para lá também... posso te levar. — Fiquei pensativa. Será que ela era realmente confiável? Uma riquinha não era e nunca vai ser minha primeira opção quando se trata de ajuda confiável. Mas acho que não tenho escolha.
— Tudo bem... Quem é o patrão, ou o dono da mineradora, enfim. Quem coordena aquilo? — Ela ficou pensativa por alguns instantes e depois respondeu.
— Alexander Hiddlegan. Um grande empresário, sim, com muito dinheiro.
— Por que vai lá? — Ela suspirou antes de continuar.
— Meu pai é outro grande empresário, sem me gabar. Ele está resolvendo algumas coisas com a su... a empresa de Alexander e quer que eu vá para lá. — Ela falou em um tom de incerteza.
— Ah, sim...
— E você? Por que vai para lá?
— Estou procurando uma amiga.
— Qual é o nome dela? Já fui lá outras vezes com meu pai, talvez eu saiba. — Hesitei, mas logo falei.
— Catarina Jones. — Seus olhos tiveram um brilho esquisito.
— É... eu já ouvi ela falando que queria... fugir, algumas vezes. — Sua voz se tornou estranha, embora continuasse aguda.
— Sim, ela quer...
— Você vai ajudar ela? — Sua voz estranha me assustou. Seus olhos brilhavam de maneira tão estranha que estavam quase me pressionando a responder suas perguntas.
— Não sei. Acho que sim... — Ela se aproximou estranhamente, sentada agora ao meu lado.
        — Mas você não acha... — Sua voz estava meio rouca — Que o dono da empresa vai querer te prender lá, como prendeu a Catarina? — Eu queria ter respondido que sim, provavelmente sim, se ele descobrisse. Mas ao invés disso, lancei:
        — Como sabe que ela está presa lá? Não te falei nada.


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