22 junho, 2014

Série Músicas Escritas-1ª Temporada-Se Essa Rua Fosse Minha

Passando para postar Se Essa Rua Fosse Minha, já em SME (Série Musicas Escritas)
Link Original: SME-1ª TEMP-SE ESSA RUA FOSSE MINHA




No meio da floresta Solidão havia uma vila. Ela era muito pequena, era somente uma rua de terra mesmo, com casinhas e árvores dos dois lados. 
Nessa vila morava uma garota, Milena. Ela morava com a tia, a mãe e o pai eram falecidos a anos. A garota era muito triste e sozinha, ninguém sabia o porquê. 
No fim da rua de Milena, a floresta continuava. Ninguém da pequenina vila ia lá, era a parte mais escura do bosque. Um dia, a tia da garota achou um gatinho branco nas redondezas do bosque. Lembrou-se da sobrinha e levou o gato para ver se a garota se animava. 
Milena ficou até feliz. Foi dormir com o gatinho. Porém, no outro dia, o bichano tinha escapado. A garota chorou muito, achava que era culpa dela. 
A tia então comprou uma boneca de pano. Milena tinha quinze anos, não brincava de boneca, mas amou o presente. Quando foi dormir, colocou a boneca ao seu lado na pequena cama. Quando amanheceu, a boneca havia sumido, e Milena pôs-se a chorar. 
A mulher então achou um cachorrinho perdido na vila e levou para a garota. Milena ficou muito feliz e dormiu com o cachorrinho. De manhã, ele também havia sumido. 
A tia não sabia mais o que fazer. Milena pensou ter decepcionado a moça e resolveu fugir. Saiu de casa e se embrenhou no bosque, correndo sem parar. Porém, ela tropeçou em um galho de árvore caído e se machucou muito. 
Sozinha, perdida e com medo, começou a chorar baixinho, até que ouviu uma voz: 
-Eu posso te ajudar. 
Era um garoto, na opinião de Milena, muito bonito. Mas o que estaria ele fazendo na parte mais escura da floresta Solidão? 
Ela estendeu a mão e o garoto a ajudou a levantar. 
-Qual é seu nome? -Ela perguntou. 
-Não posso lhe falar, Milena. -Ele respondeu e ela se assustou. 
-Como você sabe meu nome? 
Ele suspirou profundamente e falou calmo: -Eu sou um anjo, Milena. 
-Um anjo? 
-É. E eu já te conhecia antes. Sou seu anjo da guarda. 
-Mas se você é meu anjo da guarda, não era para meus pais estarem vivos? 
Ele suspirou de novo. 
-Era o certo a fazer! Me desculpe! 
-Você me fez não conseguir dormir! Você me fez ir esquentar leite! Você me fez perder o controle do fogão e colocar fogo na casa! Você...- Ela falou meio embaçada pelas lágrimas- Você me fez colocar fogo na casa e me salvar! Você me fez não poder ajudar meus pais! Você matou meus pais! -Ela berrava chorando. 
-Não, Milena, eu não fiz isso! -Ele tentava convencer a garota. 
-Fez sim! -Ela gritou- E provavelmente você fez meu gato escapar, acabou com minha bonequinha e sumiu com meu cachorro! Você quer me deixar isolada! 
-Milena, eu só quero seu bem! -O anjo tentava acalmar a mortal. 
-Não quer não! -Ela deu uma palavra final e voltou a correr, só que de volta para casa. 
No meio do caminho, achou três pedrinhas brilhantes, que ela reconheceria em qualquer lugar por ser a favorita da mãe. 
-Selenita... a pedra da Lua! -Ela reconheceu as pedrinhas. As guardou no bolso do vestido e voltou para casa. Ela jurou que esqueceria esse anjo da floresta. 



Dois meses haviam se passado. Nas cidades  além da floresta extensa, uma guerra havia estourado, afetando a pequenina vila. Milena não havia esquecido o anjo. 
Em uma noite escura, ela pegou as pedrinhas de selenita que sempre estavam com ela e ficou admirando as estrelas pela janela. Sua mãe as amava. Lembrou-se de uma música que ela cantava quando Milena era pequena: "Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, para o meu, para o meu amor passar." 
Olhou novamente para as pedrinhas em sua mão. Ah, se ela pudesse ladrilhar a rua de sua vila com selenitas! 
Pensou em sua tia que estava nas cidades maiores longe da floresta, cuidando dos feridos da guerra e chorou. Saiu de casa e entrou na parte escura da floresta com apenas um lampião antigo. 
Se sentou em uma pedra como se fosse um banquinho e continuou a cantar a música: "Nessa rua, nessa rua, tem um bosque, que se chama, que se chama Solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração." 
Um anjo que ela não soube o nome. Um anjo que ela havia acusado. Um anjo por qual ela se apaixonou. 
Ao longe, ela ouviu uma bomba, fora da floresta. Ela se levantou. Não que estivesse com medo, mas Milena havia achado mais selenitas, que brilhavam a luz da lua. 
A garota pegou as pedrinhas e fez um coração brilhante no chão. Quando colocou a última pedrinha, ouviu uma voz conhecida: 
-Que lindo! 
O anjo estava lá, encostado em uma árvore. 
-Desde quando está aí? -Ela perguntou rispidamente. 
-Desde que você chegou. -Ele disse calmo -A propósito, eu conheço a música que você estava cantando. Onde aprendeu ela? -Minha mãe cantava para mim quando eu era pequena. -Ela disse mais calma- Só que eu não sei o resto. Só até essa parte. 
Ele suspirou, deu um sorriso e cantou: "Se eu roubei, se eu roubei teu coração, é porque, é porque te quero bem. Se eu roubei, se eu roubei teu coração, é porque tu roubaste o meu também." 
Ela deu um pequeno sorriso. Ele chegou mais perto dela, ela fez o mesmo. 
-Os anjos não podem estar sempre fazendo milagres, Milena. Só quero que entenda isso.- Ele disse no ouvido dela, e se afastou. 
Milena segurou o anjo e o beijou. Quando se separaram, a garota disse: 
-Eu sei, eu sei. 
Ele, como ela esperava, suspirou. 
-Sinto muito, Milena. Eu vou ter que te decepcionar. Tenho que ir. -Ele disse em um tom dolorido. 
-Tudo bem! 
Eles trocaram um último beijo e ele desapareceu, deixando Milena olhando para o nada. 
A floresta estava estranhamente silenciosa, como se os bichos previssem algo ruim. Ela pegou o lampião, que estava no chão, sentou-se no pé de uma árvore e adormeceu. 
Quando acordou, meia hora depois, ouviu um barulho alto não tão longe dali. E outro ainda mais perto. Imediatamente, Milena tentou correr de volta à vila, mas estava realmente embrenhada na floresta. Iria se desesperar, mas ouviu o anjo atrás dela: 
-Esquece, Milena. Não tem escapatória. Só quero que se lembre... -Um barulho mais perto -Eu te amo! 
Não deu tempo da garota responder que também o amava, ele já havia desaparecido. Ela novamente se sentou ao pé da árvore. 
Quando estava pegando no sono, ela não sabia que o sono seria eterno, pois quando dormiu jogaram uma bomba na parte da floresta em que estava, depois na vila. 
E o anjo, como da outra vez, não pôde fazer nada. 

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